Sustentabilidade, transparência e ética na perfumaria. Tema de uma das primeiras aulas da 9ª edição do Curso de Formação em Perfumaria, que teve início no dia 24/10. Iguatemi Costa, Gerente Científico Sênior de Ingredientes Naturais e Sustentáveis da Natura e Cristiane de Morais, Gerente Global Symrise Amazon e Regional Botanical & Colors, foram os experts que entregaram um conteúdo riquíssimo para os alunos da Paralela Escola Olfativa, trazendo a visão de empresas que respeitam a biodiversidade.
Inspirada nessas falas tão relevantes e urgentes, organizo neste artigo 3 pilares onde podemos atuar dentro da perfumaria para avançarmos nas práticas mais responsáveis, contribuir para uma economia mais circular e, por consequência, explorarmos novas possibilidades.
1. O Design
Existe uma máxima da economia circular que diz: “lixo é um erro de design”. Ou seja, o design de um produto não pode ser enxergado como mero diferencial estético, mas como determinante de eficiência, contribuindo para a redução da geração de resíduos.
Claro que, inevitavelmente, esse também é um grande diferencial de mercado. Também por isso, os fornecedores de embalagens estão se empenhando para oferecer alternativas com propostas mais concretas e completas de design ecológico.
O frasco de vidro reciclado, por exemplo, já é parte integrante da oferta da maioria dos fornecedores, assim como frascos e amostras mais leves estão conquistando bastante espaço na indústria.
Sobre tampas, e com o uso das impressoras 3D a liberdade criativa beira o ilimitado, sendo possível a criação de tampas de matéria-prima oxi-biodegradável (provinda da cana-de-açúcar), orgânica (como no caso do óleo de rícino) ou até mesmo reciclada, com resíduos incorporados a um novo processo de fabricação.
Não só a composição, mas o desenho da tampa também é determinante para otimizar a separação para reciclagem e, no melhor cenário, contribui para sua reutilização. As válvulas removíveis, anéis rosqueados e frascos recarregáveis, declinados há alguns anos para atender regulamentações sanitárias, voltam à cena. A dimensão ambiental agora se sobrepõe ao risco de falsificações e já em 2018, vimos Guerlain e Louis Vuitton adotarem o conceito de refil.
No segmento das amostras, se busca a redução do peso do material e formatos mais eficientes. A ID Scent, por exemplo, desenvolveu o Scent Touch, uma haste impregnada de perfume, que é inserida em um sachê de papel, 100% reciclável.
Claro que o desenvolvimento do design não basta por si só. É imprescindível investir em uma comunicação clara para contar sobre os componentes, orientar e educar sobre a separação e a reciclagem. No pós-consumo, inclusive, se disponibilizar para fazer a logística reversa de seus frascos, se adequando à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Um ótimo exemplo prático é d’O Boticário, com o maior programa de logística reversa do país. Em menor escala, também exemplifico com a marca Realindo, criada por um dos nossos alunos, que orienta os seus clientes a trocar os frascos vazios por descontos em produtos.
2. A Formulação
Biobased, vegetal-based, natural. Substituir ingredientes sintéticos derivados do petróleo por matérias-primas renováveis é um passo que tem contribuição ativa para a redução da pegada de carbono na produção. Além dessa grande vantagem ambiental, também apresenta vantagem competitiva.
A Givaudan, por exemplo, dentre tantas práticas da sua política de desenvolvimento sustentável, a Sense of Tomorrow, utiliza açúcar fermentado de fontes sustentáveis, para produzir ambrofix 100% natural e facilmente biodegradável. Novos métodos de biotecnologia como esse também minimizam o impacto ambiental pela eficiência da produção que exige menos extensão de terra para obtenção do ingrediente.
Outro exemplo que gosto de trazer é o da Symrise. Com sua coleção Garden Lab e cinco ingredientes inusitados: Alho, cebola, aspargo, alcachofra e couve-flor… Só de pensar você torceu o nariz, certo? A própria indústria alimentícia muitas vezes descarta os subprodutos desses ingredientes. Mas a visionária e empenhada empresa usou do SymTrap, uma técnica que capta moléculas odoríferas de soluções aquosas, processadas a frio, obtendo um produto 100% natural.
O melhor: esse processo de revalorização abre caminhos olfativos inexplorados e absolutamente interessantes que vão além do propósito ecológico inicial.
3. O Formato
Quando se pensa em perfume, um líquido em um frasco é a imagem padrão que nosso imaginário constrói. Mas, diante de um cenário em que tudo é passível de se questionar e de fazer diferente, também é o caso de se pensar em novos formatos para o perfume.
Cosméticos formulados sem água, como os xampus em pó e leave-in em barra, já vêm ganhando o mercado da beleza e a tendência é de muito crescimento nos próximos cinco anos, segundo a Mintel.
O perfume na versão sólida, além de poupar água – um recurso natural abundante, porém esgotável – também minimiza outros impactos. Economiza material na confecção das embalagens, necessita de menos espaço para armazenagem e consequentemente, poupa energia não renovável usada para o transporte e até mesmo a emissão de gases.
A sustentabilidade, que tem como preceito garantir a permanência dos recursos naturais disponíveis hoje, para as futuras gerações, pode ser colocada em prática, de forma eficiente, revisitando os pilares do design de embalagens (e também da própria logística reversa), da formulação dos produtos e do formato em que se apresentam para consumo.
Não deixa de ser desafiador, mas pode ser imensamente estimulante se enxergarmos que essas são justamente as inovações que o mercado de fato necessita.
Referências:
https://www.brazilbeautynews.com/embalagens-de-perfumes-cada-vez-mais-verdes,3418
https://www.brazilbeautynews.com/fabricantes-de-embalagens-e-amostras-de,3337
https://www.brazilbeautynews.com/cosmeticos-seis-passos-rumo-a-sustentabilidade,3318
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[…] vendidos nas suas lojas próprias ou em pontos de vendas muito exclusivos como a perfumaria AEDES em NY, Nose em Paris, Luckyscent em Los Angeles ou na NEECHE em São Paulo. Quando essas […]