Era uma vez, um rei. O rei das especiarias se chamava Opium de Yves Saint Laurent (1977). Ele foi criado por dois perfumistas: Jean-Louis Sieuzac da casa de fragrâncias Givaudan, e é um dos perfumes mais interessantes de todos os tempos.
É, até hoje, a referência de perfume oriental especiado no mundo. Aqui na Paralela Escola Olfativa, não dá para falar de orientais especiados sem ter à mão esse perfume mais do que clássico: um perfume que todo interessado, aspirante a entendedor, precisa conhecer.
Com forte inspiração da China, uma embalagem obra-prima de Pierre Dinand e campanha mais do que polêmica para a época de seu lançamento (1977), Opium mereceu o sucesso que fez. Sua estrutura olfativa em bloco, constante, foi insolente perante todos os outros perfumes.
Nunca foi só mais um lançamento, foi um acontecimento dentro da História da Perfumaria.
Muito tempo depois, o time da L’Oréal, grupo detentor da marca Yves Saint Laurent (YSL), resgata e traz toda força do nome Opium para a perfumaria moderna. Em 2014, Black Opium Eau de Parfum ganha o mundo. Seu sucesso, no entanto, foi diferente do progenitor. Menos impactante, mas muito mais palatável ao gosto do mercado, não passamos um ano sem ouvir falar de Black Opium desde seu lançamento.
O Eau de Parfum foi seguido do Eau de Toilette em 2015. Black Opium Sparkle Clash, Black Opium Wild Edition e Black Opium Nuit Blanche são todos de 2016. Em 2017, Black Opium Pure Ilusion chegou ao mercado, junto com o Floral Shock. Ano passado foi a vez de Black Opium Sound Illusion, Holiday Edition e Glowing Edition.
Finalmente chegamos em 2019 e os flankers não pararam – Black Opium Intense e Black Opium Exotic Illusion. Definitivamente, quem se apaixonou por Black Opium foi muito bem acolhido pela marca. Uma saga de lançamentos em curtíssimo intervalo de tempo que revela seu sucesso mundial.
Black Opium EDP, aquele lá de 2014, é uma fragrância criada por 4 perfumistas da casa de fragrâncias Firmenich: Honorine Blanc-Hattab, Olivier Cresp, Marie Salamagne e Nathalie Lorson, e ocupa hoje o cobiçado 5º lugar no ranking dos produtos femininos de prestígio mais vendidos na Europa e o 13ª lugar no ranking do mercado prestígio feminino norte americano, de acordo com dados da The NPD Group Inc (National Purchase Diary Panel)
Através desse perfume e da sua destacada presença nos principais mercados ao redor do mundo, conseguimos entender o momento presente. E definir, olfativamente, a perfumaria moderna. Ao contrário do Opium original, escandaloso, Black Opium teve sucesso pela agradabilidade das notas.
Um ORIENTAL floral vibrante, de impressão solar, luminosa, resultado da combinação da flor-de-laranjeira + jasmim, com saída vibrante, cítrica, de mandarina e fundo abaunilhado. Ele está na categoria de perfumes que agradam jovens consumidores em busca de perfumes adocicados, marcantes e com rastro. Basta cheirar ao redor para perceber a boa receptividade no Brasil.
E por falar em Brasil, chegamos ao ponto central desse artigo…
Um pouco mais sobre Black Opium no Brasil.
Mas afinal, por quê ainda estamos falando de Black Opium, um perfume de 2014?
Quando recebemos o produto, também tivemos essa dúvida e fomos investigar mais para contar aqui para vocês sobre os bastidores da YSL no Brasil.
Descobrimos que a linha de maquiagem da YSL se despediu do Brasil por volta de 2016, fazendo com que a YSL Fragrances ficasse adormecida por aqui.
Felizmente, esse ano, Black Opium foi relançado, com a mesma fragrância, como uma promessa da marca de acompanhar o calendário internacional de ativações (eventos de marcas com consumidor) e lançamentos.
Embalagem e Campanha
Pierre Dinand, o mesmo designer da embalagem de Opium original, e Fabien Baron, outro grande nome dá área, deram ar contemporâneo ao frasco.
Cinco anos separam o lançamento do relançamento, por isso, se a marca queria se posicionar e se mostrar, ela precisaria se adequar à mulher contemporânea.
Em 2014, YSL mostrava uma mulher com forte sensualidade e romantismo e que não fazia mais sentido no momento social atual – ainda mais para uma marca que leva o nome de um homem disruptivo como o estilista Yves Saint Laurent.
O Black Opium de hoje representa a mulher que quer ser ela mesma, se sentir presente, livre, desapegada desse lado sedutora-clichê. Ela se posiciona e não pede desculpas por fazer o que quer, por ser ela mesma.
Quem incorpora essa mulher é a embaixadora da YSL Beauty, Zoë Kravitz (atriz, modelo, cantora, filha de Lenny Kravitz que atuou em Animais Fantásticos e está ótima na série Big Little Lies da HBO).
Por que estamos amando tudo isso?
Além do Brasil reconquistar o acesso a uma marca referência no mundo, as reflexões e os movimentos femininos têm se mostrado uma linguagem atual, relevante, e, podemos até dizer, necessária para conquistar o consumidor contemporâneo. É anunciar e reforçar os novos tempos!
Uma provocação:
Black Opium veste bem homens que se dão bem com perfumes femininos. Aqueles que não priorizam se enquadrar em gêneros, mas sim o olfato na hora de escolher o perfume. A fragrância ajuda: o toque café contrasta com o corpo floral-solar que falamos, e resulta em um efeito ousado que transcende essa noção de masculinidade tradicional.
Experimente e conte aqui suas impressões!
Até a próxima.
Cheirosamente,